Agentes penitenciários têm baixa expectativa de vida
Estudo do Instituto de
Psicologia (IP) da USP revela que as péssimas condições de
infraestrutura das penitenciárias brasileiras, a extensa jornada de
trabalho e o estresse laboral são os fatores responsáveis pela baixa
expectativa de vida dos Agentes de Segurança Penitenciária (ASP’s).
Segundo o
psicólogo Arlindo da Silva Lourenço, autor de um estudo de doutorado
sobre o tema, “o trabalho em locais insalubres como as prisões, e as
condições de trabalho bastante precarizadas do agente são estressantes,
desorganizadoras e afetam sua saúde física e psicológica”.
Lourenço
trabalha como psicólogo em penitenciárias masculinas do Estado de São
Paulo e, entre 2000 e 2002, foi um dos responsáveis, na Escola de
Administração Penitenciária (EAP), pela implementação de uma Política de
Saúde dos Trabalhadores, que acompanhou os trabalhadores penitenciários
vitimados em rebeliões.
De acordo com o pesquisador, muitos agentes sofrem pressões e ameaças constantes que prejudicam sua saúde psicológica.
– Cerca de
10% dos agentes penitenciários se afastam de suas funções por motivos de
saúde, geralmente, desordens psicológicas e psiquiátricas –, afirma.
Outro dado preocupante é a média de anos de vida, destes agentes.
– Muitos
deles morrem novos, em média entre 40 e 45 anos (alguns muito mais
novos), devido à uma série de problemas de saúde contraídos durante o
exercício da profissão, como diabetes, hipertensão, ganho de peso,
estresse e depressão –, declara Lourenço.
Segundo o
estudo, estes índices são reflexo da alta jornada de trabalho dos
agentes carcerários (12 horas de trabalho e 36 horas de repouso), das
más condições de trabalho das penitenciárias do País e do ressentimento
dos agentes em relação a dificuldade de modificar o ambiente laboral.
Condições de trabalho
A realidade
precária e carente de equipamentos materiais básicos do sistema
prisional brasileiro foi apontada como fator de desorganização
psicológica dos trabalhadores.
– As
penitenciárias são repletas de ambientes úmidos e de iluminação
insuficiente, de cadeiras sem encosto ou assento, e janelas de banheiros
quebradas, elementos que comprometem o bem-estar e a privacidade de
agentes e de sentenciados.
Com isso, o ‘improvisado’, que é algo corriqueiro entre os detentos, é assimilado pelos agentes:
– O
cafezinho de muitos agentes é preparado em latas de sardinha equipadas
com resistências de chuveiro que funcionam como um fogão elétrico –,
exemplifica.
Para o
psicólogo, essas condições deterioram e empobrecem a pessoa, além de
influenciar na capacidade de ressocialização do detento.
– Como dizer
para o detento que a vida pode ser diferente, o aprisionando em um
ambiente insalubre, empobrecido, de miséria e desgraça? –, questiona
Loureço.
– Além
disso, os recursos atuais não permitem a execução do trabalho do agente
penitenciário com decência, o que implica em um não reconhecimento de
sentido na profissão e, por consequência, em um não reconhecimento de
sua função social e de sua existência –, afirma.
A resolução
dos detalhes estruturais das instalações, tornando-as adequadas para o
convívio, trabalho e permanência humana, já representaria uma grande
diferença na qualidade de trabalho dos agentes e na reabilitação dos
detentos, segundo o pesquisador. Contudo, essa situação pouco se
modificará enquanto os agentes não perceberem a influência destes
fatores em sua qualidade de vida.
– A situação
tende a permanecer como está, pois os trabalhadores penitenciários
lutam e reivindicam, principalmente, melhorias salariais; ao mesmo
tempo, as penitenciárias estão longe de ser uma política pública
prioritária para o Estado, como pudemos ver nas manchetes recentes que
mostraram presos cumprindo penas em containers, no Estado do Espírito
Santo, e na rebelião ocorrida há alguns dias no Maranhão, em que dezoito
presos foram mortos. O motivo do motim: a superlotação da unidade penal
–, conclui.
"Agentes penitenciários têm baixa expectativa de vida"
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